Era um gatinho abandonado. Metido numa caixa muito grande de vidro da Orni Mundo. Era feliz.
Até que me tiraram de lá há sensivelmente uma semana.. Desde então tenho passado por muita coisa.
Primeiro tive em casa duma rapariga que já não me lembro do nome. Tinha um irmão bastante simpático. Acho que ficou com saudades minhas quando fui levado num cesto de piquenique para não sei onde à meia noite do dia 4 de Julho. Eu até tava constipado e tudo.. por isso podiam-me ter deixado no quentinho da casa. Mas não.
Não percebi muito bem o que diziam quando finalmente paramos, mas só ouvi:
"Queres umas sandes ? Tenho aqui no cesto as sandes para irmos lanchar.."
Por amor do Faraó.. Fui confundido por uma sande?! Enfim..
"Trouxemos-te o Alberto"
Só me lembro de rebolar no meio da cesta e de repente fazer-se luz ao cimo. Senti umas lágrimas a cairem por cima de mim, ao mesmo tempo que uma mão gigante me pegava. Até foi bom. Depois olha.. fiquei ali metido no meio das calças um certo tempo.
Não percebi se era a mim que se estavam a referir quando diziam "Alberto".
De repente, o ser que me pegou levou-me para dentro de uma casa. Meteu-me no meio de um caixote com areia. Acho que me queriam forçar a fazer qualquer coisa. De certeza que não leram as instruções.. Lá está bem explícito: "El gato es púdico y no le gustan las miradas indiscretas"
Mas mais suspresas apareciam.. Primeiro uma coisa enorme com orelhas enormes. Acho que se chama "Sai Daí Cão Chato". Não parava de olhar para mim.. Parecia um segurança.
Depois apareceu uma coisa com pêlo preto, quase como eu. Pareceu-me ser um tipo porreiro. Agora o bicho que também anda por aqui branco é que na me pareceu dar muita confiança. Mas isso ganha-se com o tempo. Acho que fui bem recebido pela família, só na percebo que nome tenho afinal. Uns chamam-me Alberto, outros Leopoldo, Leonardo, Alfredo, Tico, Teco. Ainda foram mencionados Bill, Siza, Mies, Antonio Gaudi, Mario Botta, Santiago. Uns japoneses vieram à baila: Tanaka San, Jin, Oshima, Murakami. Por causa da minha cor preta, penso eu, fui tratado por Eko, e por estar desaparecido debaixo da cama, chamaram-me WAAAAALT.. não sei..
Acho que ainda sou novo.. devo ter uns 2 meses... ainda ando atrás da minha cauda, por isso tenho de ganhar maturidade. Ouvi dizer que me queriam castrar.. não faço ideia do que isso seja. Espero que seja bom :)
De qualquer maneira estou a gostar só que..
Hoje aconteceu uma coisa..
Não sei o que me deu na cabeça, mas estava com o meu amigo preto e estava cheio de fome. Ele fez-me lembrar a minha mãe. Por isso, procurei as maminhas dele e fiquei lá a chuchar. Não saíu nada. Fui repreendido.
Depois, lá simpatizei com a branca e fiquei a dormir com ela, mas também ela me fez lembrar a minha mãe. Então também fui lá mamar, mas não saía nada!Pior! Em vez deles se queixarem, não! tavam a gostar! Só que eu só tinha fome e queria comer. Finalmente cá em casa, decidiram meter-me comida à frente. Lá larguei as maminhas, mas sinto que estou a ser alvo de troça pelo que fiz.
Estes humanos na percebem nada...
1 comentário:
uma coisa para o kikinho :
História de Uma Gata por chico Buarque
Me alimentaram
Me acariciaram
Me aliciaram
Me acostumaram
O meu mundo era o apartamento
Detefon, almofada e trato
Todo dia filé-mignon
Ou mesmo um bom filé... de gato
Me diziam todo momento
Fique em casa, não tome vento
Mas é duro ficar na sua
Quando à luz da lua
Tantos gatos pela rua
Toda a noite vão cantando assim
Nós, gatos, já nascemos pobres
Porém, já nascemos livres
Senhor, senhora, senhorio
Felino, não reconhecerás
De manhã eu voltei pra casa
Fui barrada na portaria
Sem filé e sem almofada
Por causa da cantoria
Mas agora o meu dia-a-dia
É no meio da gataria
Pela rua virando lata
Eu sou mais eu, mais gata
Numa louca serenata
Que de noite sai cantando assim
Nós, gatos, já nascemos pobres
Porém, já nascemos livres
Senhor, senhora, senhorio
Felino, não reconhecerás
um beijo grande grande martina
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