segunda-feira, janeiro 22, 2007
Literatura Anime - Parte ll
"Por qualquer razaão não fui capaz de desligar o telefone. Habia algo na voz dele que despertava a minha atenção
(...)
-Agora é a tua vez de puxar pela imaginação - disse ela num tom provocante. -Pela voz, vê lá se consegues imaginar como eu sou. A idade que tenho. Onde estou. O meu aspecto, a roupa que tenho vestida. Esse género de coisas.
-Não faço ideia - disse eu.
-Vá lá - insistiu ela. -Faz um esforço.
-Não faço ideia - repeti.
-Nesse caso, deixa-me ajudar-te - disse ela - Estou deitada na cama. Acabei de sair do duche e não tenho nada em cima do corpo.
Era de esperar. Uma chamada erótica.
-Ou preferes que vista alguma coisa? Roupa interior com rendas e folhos? Ou meias? O que achas mais excitante?
-Tanto me dá. Faça como achar melhor.- respondi. -se quiser vestir alguma coisa, vista. Se quiser ficar nua, fique nua. Tenho muita pena, mas não estou interessado em telefonemas desta natureza. Tenho mais que fazer....
-Dez minutos - disse ela. -Não é por causa de dez minutos que a tua vida vai começar a andar para trás. Responde à pergunta que te fiz, só isso. Preferes que eu esteja nua ou que vista qualquer coisa? Tenho todo o tipo de coisas, sabes? Cuecas de renda preta....
-Deixe-se estar assim.
-Muito bem, preferes que fique nua.
-Sim. Nua. Pode ser.
Quatro minutos.
-Ainda tenho os pêlos púbicos húmidos - disse a mulher. - Não me limpei bem com a toalha. Oh, estou tão molhada. Quente e húmida. E que suavidade. Tenho os pêlos tão suaves e tão pretos. Acaricia-me..
-Olhe, tenho muita pena, mas...
-Toca-me mais abaixo. Vai até ao fundo. Está tão quente aí, parece manteiga. A sério, sabes? Mmm. E as minhas pernas. Queres saber em que posição estou? Tenho o joelho direito levantado e a perna esquerda ligeiramente de lado. Como os ponteiros de um relógio apontando para as dez e cinco.
Sem dizer nada, pousei o auscultador. Deitado no sofá, deixei-me ficar ali a olhar para o relógio e soltei um suspiro profundo. Tínhamos estado durante cinco ou seis minutos ao telefone."
Haruki Murakami, Crónica do Pássaro de Corda
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